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LIÇÕES DE REPARAÇÃO
1. Esta é a
mais importante das “lições de reparação”. Na escola do Cristo Mestre precisamos
aprender a “conhecer o seu manso e humilde coração”. Ele mesmo diz: “aprendei
de mim”. Somos alunos, discípulos. Ele é o professor. Escreverei uma seqüência
de artigos baseados na letra de “Conheço um Coração”. Você pode até
colecionar cada artigo.
2. Deus enviou
seu Filho ao mundo para nos salvar. Seu amor quer nos resgatar do pecado e de
toda espécie de mal. Assim como libertou seu povo da opressão do Egito e o
conduziu por meio de Moisés, para a Terra Prometida, ele quer nos libertar e
conduzir para o céu por meio de Jesus, o novo Moisés. Quer renovar a nossa
vida. Quer curar nossas feridas e restaurar as nossas forças. Você percebeu
quantas palavras parecidas? Salvar, resgatar, libertar, renovar, curar,
restaurar. Cada uma delas revela um pouco o plano de amor que Deus tem para
conosco. Pois bem, reparação é mais uma palavra que poderia ser incluída nesta
lista. Jesus veio ao mundo para consertar o que estava fora do lugar. Este é um
dos primeiros significados da “reparação”. Um carpinteiro devia conhecer bem
esta arte de reparar cadeiras, mesas e corações. Ele entendia bem deste ofício
que aprendeu com São José.
3. No fundo, quando
falamos de reparação estamos falando de salvação. Jesus é o grande reparador.
Nós apenas completamos em nossa carne o que falta à sua obra redentora. Mas
falta alguma coisa? Falta o nosso sim. Mas mesmo que sua obra redentora tenha
sido perfeita e definitiva, Deus nos convida para colaborar com a salvação, do
mesmo modo que convidou nossos primeiros pais a continuarem a obra da criação.
4. Infelizmente
Adão e Eva pecaram. O pecado entrou no mundo e passou a ser patrimônio da
humanidade. Nascemos com esta cicatriz. Está em nosso código genético a memória
do pecado. A Igreja chama isso, desde Santo Agostinho, de “pecado
original”. É uma espécie de solidariedade no mal. Mas o contrário também é
verdade. Se alguém de nós faz algo bom, isto acaba fazendo bem para toda a
humanidade. De alguma maneira existe entre nós uma intensa comunhão espiritual.
Por exemplo, se eu faço uma hora de Adoração Eucarística, ou realizo minha
confissão, rezo o Rosário, pratico a caridade, denuncio injustiças, faço
penitência e até mesmo vivo meus sofrimentos em espírito de “reparação”, isto é
um patrimônio benéfico para toda a humanidade. É a “santidade original”; é o
antídoto do “pecado original”. Este mistério de solidariedade é o que podemos
chamar de “reparação”.
5. Ao longo da
história da Igreja santos e santas viveram a
reparação, cada qual ao seu modo. Alguns imaginaram que fariam bem se ficassem
junto ao Coração do Mestre consolando-o das injúrias que ele teria sofrido com
o pecado. Neste caso a reparação foi vivida como “consolação”. Santa Margarida
Maria insistia neste tipo de devoção. Muitas pessoas conhecem, por exemplo, os
atos de desagravo ao Coração de Jesus. Isto é importante, mas a espiritualidade
do Sagrado Coração amadureceu nos últimos séculos e descobrimos que as lágrimas
de Cristo estão no rosto dos menores abandonados. Seu coração é transpassado
novamente na morte dos indígenas e moradores de rua. Ele passa fome em nossas
crianças desnutridas. Está sendo morto pelo narcotráfico. É prostituído e
marginalizado. Jesus é crucificado todos os dias em nossas ruas. Ele mesmo
revelou este segredo no capítulo 25 de Mateus: “… todas as vezes que vocês
fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,40). Esta é a nova forma de
reparação que o Coração de Jesus deseja: a solidariedade com os pobres!
6. Para viver
este tipo de solidariedade reparadora precisamos conhecer
mais e mais o coração do mestre. Mas este conhecimento não se adquire pela
leitura de livros e artigos de revista. Quando eu proclamo que “conheço um
coração”, significa que posso dizer com o Apóstolo Paulo: Esta vida presente na
carne eu a vivo pela fé no filho de Deus que me amou e se entregou a si mesmo
por mim. Por isso, já não ou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Cf. Gal
2,20). Outro trecho da carta aos Filipenses é também
muito forte: “Tenham no coração as mesmas atitudes do Coração de Jesus” (Fl 2,5). Mas que atitudes seriam estas? Basta ler as páginas
do Novo Testamento para perceber que atitudes eram características do coração
do Mestre. Mateus resumiu: era manso e humilde. Na verdade isso significa que
ele foi alguém que se aproximava das pessoas que precisavam de conserto,
misericórdia, reparação. Comece perguntando para você mesmo: “quem são os meus
amigos?” No caso de Jesus era fácil identificar um grupo de pescadores e outro
de pecadores. Ele era o Rei dos reis. Poderia ter nascido em palácios, com
belas roupas e tesouros. Mas nasceu na periferia da periferia. Foi pobre com os
pobres, para nos enriquecer com sua pobreza (2Cor
8,9). Foi ele quem primeiro fez a “opção preferencial pelos pobres”, que
recentemente foi reafirmada na 5º Conferência do Episcopado Latino-americano,
em Aparecida.
7. Precisamos
conhecer cada vez melhor o Coração de Jesus e contemplar sua face desfigurada.
Somos convidados a transfigurar o rosto e a vida de alguém. Se você encontra
uma pessoa triste e faz companhia, ouve, consola e, no final, vê aquele rosto
triste sorrir, pode ter certeza que praticou um ato de reparação. Se sua
empregada doméstica ganha neném e você vai visitar, já começou a ter uma
atitude reparadora. Se rezar por aquela família, sua reparação é maior. Se você
percebe que a criança não tem fraldas, isso precisa ser consertado, não é
mesmo?! Precisa ser reparado. A campanha que você faz entre familiares e amigos
para conseguir as fraldas do neném, o leite e o bercinho,
é uma campanha de reparação.
8. Nosso mundo
tem conserto. Precisamos uma legião de reparadores dispostos a consertar a
política, a cultura, a sociedade. Precisamos consertar acamada de ozônio ferida
pelo excesso de emissões de gás carbônico. Se praticamos
a coleta seletiva do lixo, isso é uma atitude reparadora. Veja que reparação é
muito mais do que viver uma devoção. O Coração de Jesus nos convida a implantar
o Reino da Vida nas pessoas e na sociedade. Em outras palavras, viver a
reparação é começar a construir a Civilização do Amor.
9. Se vivermos
esta mística, ficaremos indignados ao ver as coisas desajustadas. Esta santa
indignação alimentará nossa mística de fazer o céu acontecer na terra. O
reparador é assim. Não consegue ver nada fora do lugar. Busca sempre as coisas
do alto. Procura conhecer o coração manso, humilde e sereno e, ao encontrá-lo,
repousa em paz, mas sempre inquieto!